A presença hebraica na herança judaica

O judaísmo é muito mais do que apenas uma religião. Ser judeu é ter em suas mãos uma história antiga, uma responsabilidade de continuidade e um sentimento de pertencimento a um grupo de pessoas que protagonizaram alguns dos capítulos mais críticos da história humana. Ser judeu não significa necessariamente acreditar em uma fonte poderosa da qual tudo vem. Ser judeu significa ter uma história nacional, ter os mesmos patriarcas, ter uma herança comum e uma visão semelhante para o futuro.

De acordo com o rabino Marcoff, um rabino judaico conservador que se formou no Seminário Rabínico Marshall T. Meyer, qualquer referência a “ os hebreus” era apenas a maneira bíblica de se referir aos membros do povo de Israel. Ele diz que Abraão foi o primeiro “hebraico”.

Por outro lado, o rabino Marcoff se refere a “judeus” como aqueles que se identificam com o judaísmo ou com o povo de Israel, ou aqueles que são realmente judeus de acordo com a lei judaica (Halacha). No entanto, nos tempos antigos, esse nome foi dado apenas àqueles pertencentes à tribo específica de Judá.

Quando ele define “israelitas”, ele diz que foi o nome dado aos moradores do Reino de Israel milhares de anos atrás. E, quando ele define “israelenses“, ele simplesmente diz que esse é o gentílico daqueles que vivem no Estado de Israel.

Dito isso, o que todas essas definições têm em comum? O que pode unificar períodos de tempo tão contrastantes e distintos? Sim, você está completamente certo! Essas quatro definições têm infinitas coisas em comum. Mas a língua hebraica é uma das mais importantes, e o assunto principal dos próximos parágrafos. Por quê? Por favor, fique confortável e relaxado, porque vamos explicar em profundidade.

Eliezer Ben Yehuda: o pai do hebraico moderno

Eliezer Ben Yehuda foi um lexicógrafo e editor de jornal especializado em hebraico. Ele foi o elemento crítico para a ressurreição moderna da língua hebraica. Mas o hebraico, ou uma forma muito próxima do hebraico que conhecemos hoje, existe há milênios, e sua importância para a herança judaica vai muito além do trabalho espetacular feito por Ben Yehuda.

Muitos judeus ortodoxos da época desaprovavam as tentativas de Ben Yehuda de reabilitar a língua hebraica. Eles eram da opinião de que o hebraico, que eles tinham aprendido apenas como uma língua bíblica, não deveria ser usado para discutir assuntos não-santos ou cotidianos. Mas muitos outros membros do judaísmo acreditam, até hoje, que mesmo os aspectos mais mundanos de nossas vidas diárias podem ter algo de santo. Eles viram algo extraordinário e se juntaram à revolução nesse esforço.

Ben-Yehuda também atuou como editor de várias publicações em hebraico. Portanto, ele sabia do que estava falando ao trabalhar na ressurreição da língua hebraica.

Embora seu filho tenha ajudado com a criação de coisas que não existiam no hebraico antigo, o trabalho que Ben-Yehuda fez para devolver a vida ao fio vermelho invisível que unifica todos os fluxos do judaísmo é simplesmente louvável. Antes de continuarmos, gostaríamos de nos levantar e dar um grande aplauso ao Sr. Eliezer Ben Yehuda.

Nos próximos parágrafos, analisaremos a ligação entre o hebraico e a herança judaica a partir de várias perspectivas diferentes. Esperamos que as linhas a seguir sejam inspiradoras e ajudem não só a compreender o valor infinito da língua hebraica, mas também a sua ligação à história do mundo. Das revoluções mais importantes às suas raízes e história pessoal. O elo está lá… é só abrir o seu coração e encontrá-lo.

O impacto da língua hebraica na cultura israelense

A restauração da língua hebraica, que não era falada desde os tempos bíblicos, também impactou significativamente a cultura atual de Israel. A pedra angular da vida cultural israelense é construída sobre um rico legado de linguagem compartilhada, de uma tradição religiosa e histórica judaica compartilhadas e de uma profunda herança judaica.

Como também mencionado no subtexto do livro “Startup Nation” de Saul Singer e Dan Senor, os israelenses se sentem únicos. Há um sentimento de singularidade na sociedade israelense que faz com que eles tenham esse chutzpah positivo, o que os permite alcançar altos níveis de sucesso, para transformar qualquer sonho em uma realidade impressionante, ou em algo com resultados milionários.

Mas o que os faz se sentirem únicos? Encontrar o caminho certo para florescer no deserto é um fator essencial. Mas ser o único país do mundo em que as pessoas falam hebraico também ajuda. Não estamos falando de qualquer língua: é a língua falada no berço de todas as religiões modernas, e por que não dizer, da história do mundo.

Sentir-se de alguma forma o dono da língua que criou tudo, de acordo com uma visão de como foi a Criação, é tido por todos como algo benéfico para a sociedade israelense. Dessa forma, torna-se claro e certo que nada é impossível, e que você pode fazer qualquer coisa. E é exatamente essa mentalidade que é continuadamente ensinada aos israelenses desde os seus primeiros anos, passando pelo exército, até chegar na universidade. Tudo em hebraico.

Hebraico e divindade: A presença da lingua em livros e escrituras sagradas canônicas.

O Tanakh é o cânone de fontes que são consideradas sagradas pelo Judaísmo. Inclui a Torá, o Neviim e o Ketuvim.

No total, o Tanakh inclui 24 livros que são organizados da seguinte maneira:

  • Na Torá, temos os livros de Bereshit, Shmot, Vayikra, Bamidbar e Devarim.
  • Em Nevi’im, temos os livros de Ioshua, Shoftim, Shmuel, Melachim, Ishaiahu, Irmiahu, Iehezkel e Trei Azar.
  • Em Ketuvim, temos Tehillim, Mishlei, Hob, Shir HaShirim, Ruth, Eiha, Kohelet, Esther, Daniel, Ezrah-Nehemiah, e Diverei Halamim.

É essencial lembrar que todos esses livros foram escritos em hebraico e são lidos até hoje, na mesma língua hebraica, com os comentários de nossos sábios. Isso mesmo, você adivinhou, foram escritos em hebraico!

Lembra-se quando mencionamos aqueles que se opunham à ideia de Ben Yehuda de ressuscitar a língua hebraica? Bem, o principal medo deles era que a santidade de estudar esses livros canonizados em hebraico fosse ser menos significativa pelo fato de todos falarem hebraico nas ruas. Isso nunca aconteceu, e esses escritos sagrados ainda são significativos e diretamente ligados à divindade para todas as pessoas que acreditam nela.

A importância do hebraico na oração

​​A oração fortalece o vínculo entre Deus e os seres humanos. Os judeus, como outras pessoas religiosas, rezam de várias maneiras. O aspecto mais crucial da oração é que ela deve ser focada inteiramente em Deus, sem mais nada em seus pensamentos.

De acordo com a lei judaica, todas as orações individuais, e praticamente todas as orações coletivas, devem ser feitas em qualquer idioma que a pessoa que ora entenda.

Outra fonte crítica de texto para o judaísmo é o Talmude, que especifica quais orações devem ser feitas em hebraico e quais podem ser feitas em qualquer idioma.

Então, por que a maioria dos judeus ora em hebraico? Pode ser por causa da sua herança e da sua ligação ancestral com a língua.

A maior parte das sinagogas em Israel e no mundo decidiram fazer a maioria das orações em hebraico. Pode ser uma possibilidade de convidar os que oram para aprenderem essa língua antiga que conecta o mundo com um longo, mas invisível, fio vermelho.

Em que língua você costuma rezar? O que te parece mais importante, compreender tudo o que está dizendo ou se sentir ligado a uma língua por meio de uma história de séculos? Bom, sejamos otimistas. Ambas as coisas podem acontecer se você aprender hebraico. E hoje, o hebraico está ao alcance de todos!

O misticismo judaico e o uso do hebraico

De acordo com algumas perspectivas da tradição judaica, a língua hebraica tem uma origem divina. No livro de Bereshit, mencionado acima, Deus cria o mundo (e o Universo) pronunciando sua vontade, mostrando que, como consequência, a linguagem tem o maior potencial criativo.

Essa visão é o ponto de partida para a maioria das tradições místicas e mágicas judaicas, desde a antiguidade até os tempos atuais.

Ao analisar a origem dos místicos mais predominantes na história judaica, percebemos que a maioria deles não nasceu em Israel… ou no Reino de Israel. Suas línguas nativas estavam longe de ser hebraico.

Shlomo Alkabets (alguém de quem falaremos em breve) nasceu na Grécia, Chaim Vital nasceu na Itália, Nahmanides nasceu na Espanha e assim por diante. Algumas pessoas muito relevantes para o misticismo judaico nasceram em Israel, como Isaac Luria e Shimon Bar Yohai.

Mesmo que alguns deles não tenham aprendido hebraico em seus primeiros anos, a chegada deles em Israel foi um grande marco em suas carreiras e legados.

Seus livros, que hoje são estudados por milhares de pessoasem todo o mundo, foram escritos em hebraico, permitindo que as pessoas compreendam o real significado do que eles queriam dizer. Em vez de sofrer as perdas de uma tradução, que pode perder metade do seu significado.

A incorporação do hebraico nas suas vidas criou algo único. O poema “Lecha Dodi”, escrito por Shlomo Alkabetz, é agora uma parte inerente do serviço religioso Kabbalat Shabat em todo o mundo, em todos os diferentes domínios da religião judaica.

O que começou como um poema hebraico, escrito por um imigrante místico da Grécia, tornou-se uma das partes essenciais da oração judaica na sexta-feira à noite. E tudo por causa do hebraico, da poesia e do misticismo judaico.

Livros extraordinários como “Shaarei Kedusha” (Portões da Santidade), escrito por Chaim Vital, mostram uma abordagem muito interessante do hebraico, que permite que os leitores entendam o que ele está dizendo, ao mesmo tempo em que recebem um conhecimento sólido do misticismo judaico.

Aramaico e hebraico: As raízes da língua mais utilizada na terra do leite e do mel

A principal distinção entre aramaico e hebraico é que o aramaico pertence aos arameus, e o hebraico pertence aos hebreus (israelitas). Lembra quando discutimos esses termos no início deste artigo?

O aramaico e o hebraico são línguas semitas do noroeste, intimamente relacionadas, e com vocabulários muito semelhantes. Porém, existem muitas diferenças gramaticais e lexicais entre essas duas línguas.

As origens do aramaico remontam aos arameus da antiga Síria. O aramaico tem uma história de três mil anos e passou por vários estágios de desenvolvimento. Por outro lado, o aramaico moderno, ou neo-aramaico, é um conjunto de línguas relacionadas que incluem variedades aramaicas modernas que foram preservadas e se desenvolveram dentro de populações diferentes em todo o Oriente Médio.

A língua judaica, o hebraico, pertence ao grupo do norte ocidental de línguas semitas. Apesar de ter sido falado em Israel por gerações, no século III a.C. o hebraico tinha sido substituído pela variedade ocidental do aramaico. No entanto, a língua hebraica ainda era usada como uma língua litúrgica e literária.

Ben Yehuda, como mencionado anteriormente, ressuscitou o hebraico como uma língua moderna falada nos séculos XIX e XX.

A língua oficial do Estado de Israel é agora o hebraico. O hebraico, sendo a língua da Bíblia, ainda surpreende e atrai pessoas em todo o mundo.

Muitas pessoas pensam que as origens do hebraico estão no aramaico. O que você acha? Por favor, conte para nós nos comentários abaixo.

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Livros mais vendidos em hebraico em 2021: Nem tudo é sobre religião

Mas nem tudo é sobre religião, sobre a Bíblia, ou sobre misticismo judaico quando se trata de hebraico. Como mencionamos acima, desde que Ben Yehuda trouxe essa língua antiga de volta à vida, muitos livros e publicações importantes conquistaram o coração de pessoas em todo o mundo.

Não muito tempo atrás, publicamos uma lista com os 4 principais autores israelenses que você precisa ler em breve, e hoje, agora, gostaríamos falar dos livros mais vendidos em Israel no ano passado. Dessa forma, você compreenderá plenamente que o hebraico vai além da religião e da divindade e de sua presença inerente na herança judaica.

1. A autora Einat Nathan escreveu o livro “Meu tudo: a mãe que quero ser, os filhos que espero criar”, em que ela mostra aos pais como ensinar as crianças a serem fortes e independentes, vendo o mundo pelos olhos de seus filhos.

2. Noa Tishby, atriz israelense, escreveu e publicou um livro fantástico chamado “Israel: Um guia simples para o país mais incompreendido da Terra”. Tishby traça uma linha cronológica perspicaz de Israel, desde os tempos bíblicos até nossos dias. Um livro muito interessante e bom de se ler!

Está pronto para dominar a língua dos nossos antepassados lendo um livro em hebraico? Está esperando o quê?

O hebraico te aguarda. Está pronto para aprender?

É hora de se reconectar com as suas origens. É hora de cuidar da herança que recebeu e da herança cultural que deixará para as suas futuras gerações. É hora de entender que você faz parte de uma cadeia interminável que precisa de continuidade, de legado e de durabilidade.

Uma ótima maneira de fazer tudo o que foi mencionado acima é aprender hebraico e torná-lo parte de sua vida diária. Nos cursos de hebraico oferecidos pelo Rosen Instituto de Hebraico, você aprenderá a dominar a antiga língua que Ben Yehuda ressuscitou. E você entenderá definitivamente a imensa importância de mantê-la viva.

Se você está ansioso para fazer parte de algo maior do que você mesmo, ao mesmo tempo em que conhece outros alunos curiosos de todo o mundo, essas aulas de hebraico on-line podem ser exatamente o que você estava procurando.

A hora é agora. Você deve isso a si mesmo. Deve isso à sua história. Deve isso à sua herança.

Sobre o autor

Arie Elbelman R.Arie nasceu e cresceu no Chile e imigrou para Israel aos vinte e poucos anos de idade. Ele quer assumir um papel ativo no desenvolvimento desse país jovem e inteligente. Arie acredita que a melhor maneira de moldar nosso presente e futuro é viver com hierarquias mais horizontais, sorrir muito e sempre, sempre respeitar um ao outro.

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